Homenageados:
Ana Bororó, Djalma Sabiá, Mestre Louro, Almir Guineto, Bala, Joaquim Casemiro Calça Larga, Abelardo Silva, Maria Romana, Anescarzinho, Noel Rosa de Oliveira e Geraldo Babão.
Subindo pelo Caminho Largo, nota-se imediatamente que a Folia de Reis sempre está presente no imaginário dos becos e vielas da comunidade enquanto grandes nomes do Salgueiro se reúnem no famoso botequim da Ana Bororó. Um deles é o presidente de honra Djalma Sabiá que está a postos com o pavilhão em mãos observando a roda composta por Bala, maior vencedor de sambas de enredo da agremiação alvirrubra acompanhado do mestre Louro ao lado do seu irmão Almir Guineto e seu majestoso banjo sempre enaltecendo os tambores do Caxambu (saravá, jongo, saravá), manifestação popular imprescindível para a constituição da memória salgueirense.
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De olho nesse pagode estão Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, compositores da obra que deu o título do carnaval carioca de 1960 com um samba que rompe com os temas patrióticos impostos pelo Estado Novo ainda como lugar-comum aos desfiles das escolas no contexto histórico da década de sessenta do século XX. Outro poeta fundamental para a história da Acadêmicos do Salgueiro se faz presente, o nome dele é Geraldo Soares de Carvalho.
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Parceiro de Sabiá, Babão também foi responsável pela composição Chico Rei (1964) e outras dezenas de canções que estão na boca do quilombo que é uma autêntica raiz da Tijuca. É nessa encruzilhada da atual rua Francisco Graça que o NegroMuro respeitosamente entregou onze baluartes salgueirenses elencados através dos proprietários da Caliel (sede do Caxambu do Salgueiro) e pelo Departamento Cultural da agremiação carnavalesca.
Logo em seguida nos deparamos com Joaquim Casemiro Calça Larga, outra grande entidade do panteão salgueirense. O apelido desse líder comunitário tornou-se uma nomenclatura oficial no Torrão Amado devido a sua imensa importância na história da cidade do Rio de Janeiro. Calça Larga era amigo de infância do Carlos Lacerda que enquanto governador do Estado da Guanabara realizou, a pedido de Calça Larga, a canalização da água no morro do Salgueiro, e até os dias de hoje algumas pessoas se referem como “água do Lacerda”, constatando o poder que detinha para além do mundo do samba.
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@cazearte o grafitou com sua tradicional boina e seu charuto aceso confirmando sua conhecida imponência e autoridade.
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Não menos importante, próximo está Abelardo Silva, outro compositor - tinha Noel Rosa de Oliveira como parceiro - de suma importância com canções gravadas por Elza Soares, Originais do Samba, Luiz Melodia e Neguinho da Beija-Flor, além de ter sido um dos compositores do primeiro carnaval do Acadêmicos do Salgueiro em 1954 com o enredo “Romaria à Bahia”.
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Finalizando a constelação salgueirense estampada na Caliel com uma das fundadoras da agremiação alvirrubra, advinda da Azul e Branco que ocupou presidência da ala das baianas de 1953 (ano de fundação do Salgueiro) até meados dos anos oitenta.
Maria Romana, irmã da ilustre tia Neném, é uma importante liderança no morro e na escola, sendo homenageada recentemente na quadra, assim como também foi premiada dois anos seguidos como “personalidade feminina” e “destaque feminino do carnaval” do carnaval carioca de 1979 e 1980, respectivamente.
Maria Romana ocupa um espaço fundamental na construção da identidade da escola de samba que desfila com a bateria Furiosa conduzida pelo alujá de Xangô.
Lembrar nosso ancestrais é como mantê-los vivos.
O Salgueiro pulsa vida, resgata seu passado a cada viela e constrói seu futuro no bater do tambor do caxambu, na marcação do surdo da bateria Furiosa, no brincar da menozada e na reza dos seus mais velhos.
Dias que são pra sempre.
Sobre a Caliel:
Liderada pelo incrível Marcelo Paz, a Caliel foi fundada por Adão Rocha, seu pai e, hoje, a padaria tem um papel fundamental na comunidade do Salgueiro.
Um espaço sagrado que, além de ser panificadora, também é um centro cultural, a sede do Caxambu do Salgueiro, um ponto de encontro para aulas e cursos profissionalizantes, encontro de mestras e mestres erveiros, ensaios musicais, além de também servir à comunidade como posto de saúde em convênio com o SUS.
O projeto NegroMuro já pintou museu, já pintou escolas, já pintou o histórico estádio de São Januario, mas a Caliel carrega um simbolismo que muito nos emociona poder ter tido o privilégio de conhecer, de conviver e de nos alimentar.
Artista: Cazé
Assistente: Leandro Tick
Produção: Pedro Rajão e Rhuan Gonçalves
Um trabalho em parceria com a Tile_DAO e Lucas Gogolevsky
Alimentação sagrada dos nossos dias: Marcelo Paz e Bruna Pontes