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NEGRO MURO

MUROS

11 BALUARTES DO SALGUEIRO

MUROS

11 BALUARTES
DO SALGUEIRO

O Salgueiro é poesia em estado bruto.

Uma comunidade, um quilombo, uma favela orgulhosa de sua origem africana e ameríndia, um morro intimamente ligado a Xangô e Oxóssi, uma grande família que pulsa resistência sob as cores vivas de seu pavilhão.

Há muito o que dizer sobre suas curvas, suas matas, sua Escola de Samba, seu Caxambu, sua Folia de Reis, sua comida sagrada.

Foram 14 dias de imersão que muito nos fez aprender, nos renovar artisticamente, reafirmar nosso propósito e nos envolver em tanto axé.

O projeto NegroMuro chega a seu 27o trabalho exaltando 11 nomes do Salgueiro sob a curadoria de Marcelo Paz e Emerson Menezes da Caliel Culinária Artesanal junto ao departamento cultural do Salgueiro.

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Homenageados: Ana Bororó, Djalma Sabiá, Mestre Louro, Almir Guineto, Bala, Joaquim Casemiro Calça Larga, Abelardo Silva, Maria Romana, Anescarzinho, Noel Rosa de Oliveira e Geraldo Babão.

Subindo pelo Caminho Largo, nota-se imediatamente que a Folia de Reis sempre está presente no imaginário dos becos e vielas da comunidade enquanto grandes nomes do Salgueiro se reúnem no famoso botequim da Ana Bororó. Um deles é o presidente de honra Djalma Sabiá que está a postos com o pavilhão em mãos observando a roda composta por Bala, maior vencedor de sambas de enredo da agremiação alvirrubra acompanhado do mestre Louro ao lado do seu irmão Almir Guineto e seu majestoso banjo sempre enaltecendo os tambores do Caxambu (saravá, jongo, saravá), manifestação popular imprescindível para a constituição da memória salgueirense.

. De olho nesse pagode estão Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, compositores da obra que deu o título do carnaval carioca de 1960 com um samba que rompe com os temas patrióticos impostos pelo Estado Novo ainda como lugar-comum aos desfiles das escolas no contexto histórico da década de sessenta do século XX. Outro poeta fundamental para a história da Acadêmicos do Salgueiro se faz presente, o nome dele é Geraldo Soares de Carvalho. .

Parceiro de Sabiá, Babão também foi responsável pela composição Chico Rei (1964) e outras dezenas de canções que estão na boca do quilombo que é uma autêntica raiz da Tijuca. É nessa encruzilhada da atual rua Francisco Graça que o NegroMuro respeitosamente entregou onze baluartes salgueirenses elencados através dos proprietários da Caliel (sede do Caxambu do Salgueiro) e pelo Departamento Cultural da agremiação carnavalesca.

Logo em seguida nos deparamos com Joaquim Casemiro Calça Larga, outra grande entidade do panteão salgueirense. O apelido desse líder comunitário tornou-se uma nomenclatura oficial no Torrão Amado devido a sua imensa importância na história da cidade do Rio de Janeiro. Calça Larga era amigo de infância do Carlos Lacerda que enquanto governador do Estado da Guanabara realizou, a pedido de Calça Larga, a canalização da água no morro do Salgueiro, e até os dias de hoje algumas pessoas se referem como “água do Lacerda”, constatando o poder que detinha para além do mundo do samba. .

@cazearte o grafitou com sua tradicional boina e seu charuto aceso confirmando sua conhecida imponência e autoridade. .

Não menos importante, próximo está Abelardo Silva, outro compositor - tinha Noel Rosa de Oliveira como parceiro - de suma importância com canções gravadas por Elza Soares, Originais do Samba, Luiz Melodia e Neguinho da Beija-Flor, além de ter sido um dos compositores do primeiro carnaval do Acadêmicos do Salgueiro em 1954 com o enredo “Romaria à Bahia”. .

Finalizando a constelação salgueirense estampada na Caliel com uma das fundadoras da agremiação alvirrubra, advinda da Azul e Branco que ocupou presidência da ala das baianas de 1953 (ano de fundação do Salgueiro) até meados dos anos oitenta.

Maria Romana, irmã da ilustre tia Neném, é uma importante liderança no morro e na escola, sendo homenageada recentemente na quadra, assim como também foi premiada dois anos seguidos como “personalidade feminina” e “destaque feminino do carnaval” do carnaval carioca de 1979 e 1980, respectivamente. Maria Romana ocupa um espaço fundamental na construção da identidade da escola de samba que desfila com a bateria Furiosa conduzida pelo alujá de Xangô.

Lembrar nosso ancestrais é como mantê-los vivos.

O Salgueiro pulsa vida, resgata seu passado a cada viela e constrói seu futuro no bater do tambor do caxambu, na marcação do surdo da bateria Furiosa, no brincar da menozada e na reza dos seus mais velhos.

Dias que são pra sempre.

Sobre a Caliel:

Liderada pelo incrível Marcelo Paz, a Caliel foi fundada por Adão Rocha, seu pai e, hoje, a padaria tem um papel fundamental na comunidade do Salgueiro.

Um espaço sagrado que, além de ser panificadora, também é um centro cultural, a sede do Caxambu do Salgueiro, um ponto de encontro para aulas e cursos profissionalizantes, encontro de mestras e mestres erveiros, ensaios musicais, além de também servir à comunidade como posto de saúde em convênio com o SUS.

O projeto NegroMuro já pintou museu, já pintou escolas, já pintou o histórico estádio de São Januario, mas a Caliel carrega um simbolismo que muito nos emociona poder ter tido o privilégio de conhecer, de conviver e de nos alimentar.

Artista: Cazé Assistente: Leandro Tick Produção: Pedro Rajão e Rhuan Gonçalves Um trabalho em parceria com a Tile_DAO e Lucas Gogolevsky Alimentação sagrada dos nossos dias: Marcelo Paz e Bruna Pontes