Reconhecido pela força e inteligência nas artes marciais, o baiano de 22 anos veio para o Rio de Janeiro querendo se profissionalizar em Jiu Jitsu com os Gracie, mas essa história a gente conta em breve.
Quando Waldemar subiu ao ringue, não estava só. Dir-se-ia que, atrás dele e com ele, subia uma população imensa, subiam todos os que gostariam de esmagar, debaixo do tacão, como uma víbora hedionda, a invencibilidade dos Gracie (...) O fraco sentiu-se menos fraco, o humilhado menos humilhado, e o marido que não pia em casa levantou, por 24 horas, a crista abatida. Todos nós somos cúmplices de Waldemar"
Nelson Rodrigues foi testemunha ocular da histórica luta considerada a mais longa da história: 3 horas e 45 minutos do duelo entre Waldemar Santana e Helio Gracie.
Nestas duas cenas das fotos nos propomos a sintetizar a trajetória do atleta ainda amador advindo de Salvador para a então capital federal em buscando se aprimorar no Jiu-Jitsu.
Waldemar Santana inicia sua jornada como faxineiro, roupeiro e depois sparring, até se tornar um dos melhores lutadores da unidade da academia Gracie localizada no centro do Rio.
Por conta de uma desavença gerada entre Helio e Waldemar, o Leopardo foi expulso da academia. Muitos xingamentos racistas e palavras duras foram proferidas até Waldemar denunciar o caso na mídia, desafiando o maior nome do jiu-jítsu brasileiro para um duelo.
E foi justamente no duelo contra seu mestre que o Leopardo Negro se consagrou ao enfrentar Helio Gracie por heróicas três horas e quarenta e cinco minutos de luta (!) na ACM da Lapa em maio de 1955, onde Waldemar arremessou seu mestre pra fora do ringue, além de ter acertado o golpe “tiro de meta” que decretou o fim da luta e vitória do único negro da academia onde Santana foi formado.
É a partir desse dia que Waldemar começa a ser reconhecido como um dos primeiros ídolos negros do esporte brasileiro e o artista Cazé o retratou justamente em frente ao ginásio histórico onde 20.000 pessoas acompanharam a selvagem batalha.
Waldemar Santana foi uma celebridade nacional.
Figura que transcendia o mundo da luta, o lutador baiano que também exerceu o ofício de marmorista era um mangueirense apaixonado, além de amigo pessoal de Jamelão. Era na casa de Waldemar que o intérprete verde e rosa se hospedava quando ia pra Salvador fazer shows.
Flamenguista mas muito amigo de Garrincha, era figurinha certa nos bailes de carnaval do Cordão do Bola Preta, do Theatro Municipal, recebeu Nat King Cole no Palácio do Catete, foi próximo de Caymmi, das musas do Rádio, enfim, um grande personagem da cidade do Rio.
Versátil e comunicativo, era presença constante nos programas de rádio, televisão e jornais esportivos.
Waldemar Santana virou personagem em histórias populares e serviu de mote para os repentistas nordestinos, passando a ser cantado em prosa e verso. Figurou também em letras de várias composições gravadas em discos. Uma delas foi o baião ‘Deixa o Baiano Viver’, de J. Ramos e Venâncio, sucesso de 1960 na voz do alagoano Luiz Wanderley. Eis um trecho:
“A baiana pra ser boa não precisa de bambolê,
Igualzinha a Martha Rocha tem mais de mil pra se ver,
Na Bahia tem petróleo, tem cacau e tem dendê,
E tem Waldemar Santana pra dar uma pisa em você,
Viu?
Baixinho, falou da Bahia, pisou no meu calo,
Vamos s’embora, conterrâneo, salve a Bahia!
Ô terrinha boa medonha!
Isso é que é terra, home!
Salve a Bahia!”