Na construção de uma memória social que
enalteça lutas, conquistas e referências
de pretas e pretos. Negro Muro também
envolve comunicação e tecnologia.
Isso se traduz de duas formas: com placas
QR code para transeuntes poderem saber
mais sobre as figuras retratada e fotografando
/filmando as artes para uso em site,
redes sociais e outros meios.
ilustrando e expandindo conteúdos
sobre as histórias que a História
não conta, além das lives
transmitindo o processo
de pintura ao vivo.
Para Lima Barreto, foram criados dois muros. O primeiro localizado na Rua Vilela Tavares, Lins (2018) foi perdido.
Lima Barreto hoje é homenageado em nosso segundo muro, localizado na Rua Major Mascarenhas, Todos os Santos (2022).
MEMORIAL
Lima Barreto morou na casa número 26 da Rua Major Mascarenhas, acho interessante usar a referência mas sem o muro que foi construído somente depois.
Abaixo, a primeira casa que ele morou, também em Todos os Santos mas em outra rua. Acho que os portões podem ser usados como referência pra substituir o muro ou a própria casa pode ser usada pra representar a casa.
Do que consegui coletar, há 3 passagens mais interessantes e poéticas sobre o período em que ele morou nesse lugar.
1) Crianças brincando de Ciranda:
Numa sátira voltando do trabalho, num domingo de Páscoa, Lima narra uma roda de ciranda de “cerca de 6 a 8 crianças”, cada uma de uma cor (raça/etnia) diferente, num chão de barro, sob um céu com uma lua bem cheia.
A despreocupação e inocência das crianças, bem como as letras das cirandas foram as coisas que mais lhe chamaram a atenção e como o muro que vamos pintar fica ao lado de uma creche, acho que pode ser uma imagem de muita força e representatividade ali no local.
2) Manuel de Oliveira, o velho negro Cabinda
Lima conta que um negro africano, muito orgulhoso de sua origem africana e, mais especificamente, da região de Cabinda, em Angola, era muito amigo da família e se tornou uma espécie de avô para ele, que sempre o presenteava com frutas, batata doce assada e outros mimos.
Manuel Cabinda plantava e vendia couves, depois ficou responsável por cuidar de animais como porcos e cabras, etc.
Quando ele faleceu, Lima tinha pouco mais que 20 anos e ele disse que no seu enterro, enterrou também muitos dos seus sonhos e esperanças. Acho que pode ser uma referência interessante de um preto velho como uma imagem a ser trabalhada.
3) Cortejos fúnebres
Lima narrou em alguns contos e crônicas como ele ia para botecos ler jornal e como sempre observava os cortejos que seguiam para o cemitério de Inhaúma. Ele narrava a pobreza e simplicidade do povo suburbano que carregava no braço os caixões dos entes queridos, alguns destes, parando de bar em bar, para homenagear os mortos.
Acredito ser uma imagem interessante desenhar Lima, elegante como ele sempre se trajava, sentado numa mesa de boteco, observando a rua onde passa - ao longe - um cortejo fúnebre. Acho que seria uma imagem bem bonita. Na rua onde passa o cortejo, atual Suburnana, passava também o bonde e, em último plano, um pouco mais distante, a Serra dos Pretos Forros.
No ícone vermelho, a localização da casa de Lima e uma referência da vista da serra
Obs: Lima morava no bairro de Todos os Santos e morreu no dia 01/11/1922, dia de Todos os Santos (pintamos o primeiro grafite de Lima no dia 02/11/2018, dia dos mortos)
Obs2: Lima chamava (em muitos manuscritos) sua casa em Todos os Santos de Vila Quilombo: um plaquinha na ilustração da casa com isso escrito seria maneiro.
A denominação “Vila Quilombo” é própria de Lima Barreto, e apareceu na crônica “Bailes e Divertimentos Suburbanos”, publicada originalmente na Gazeta de Notícias, em 7 de fevereiro de 1922: Há dias, na minha vizinhança, quase em frente à minha casa, houve um baile. Como tinha passado um mês enfurnado na minha modesta residência, que para enfezar Copacabana denominei “Vila Quilombo”, pude perceber todos os preparativos da festa doméstica: a matança de leitões, as entradas das caixas de doces, a ida dos assados para a padaria, etc.146 Situada no subúrbio carioca de Todos os Santos, a “modesta residência” foi nomeada “Vila Quilombo” e, desse modo, Lima Barreto rememorou, no espaço-tempo da república pós-abolição, o grito de liberdade de uma prática de resistência contra o sistema da escravidão colonial e imperial no Brasil. Ao mesmo tempo em que funcionava discursivamente como “memória”, a “Vila Quilombo” expressava o “presente” de Lima Barreto, no qual se distinguia o subúrbio como um dos espaços destinados pela ordem republicana a afastar os indesejáveis do palco da modernidade.