Quando chegou ao Rio em 39, Gonzaga começou a ganhar a vida tocando no bar Espanhol, na zona do baixo meretrício do Mangue. Um repertório de foxtrotes, valsas, tangos e boleros, muito distante de suas raízes nordestinas.
Certa noite, no bar da zona do Mangue, atendendo ao pedido de um grupo de estudantes cearenses, ele tocou músicas nordestinas: Pé de serra, que mais tarde seria gravada com o título de Xamego, e Vira e Mexe. O sucesso foi grande e, logo depois, ele chegaria ao rádio, participando do programa de calouros de Ary Barroso.
Em 1941, gravou seu primeiro disco 78 RPM, Vira e Mexe, que ele definiu como “choro nordestino”. Somente como solista de sanfona, Gonzaga gravou cerca de 70 músicas, durante quatro anos consecutivos.
Já em 1945, ele começa a parceria com Humberto Teixeira, poeta e compositor cearense. O encontro foi fundamental para o lançamento do músico como cantor, o que lhe daria popularidade nacional, sobretudo a partir da gravação de Asa Branca, em 1947.
Gonzaga e Humberto Teixeira chegaram à conclusão de que entre todos os ritmos do Nordeste, o baião, ainda desconhecido no Rio, seria o mais adaptável à cultura urbana que tinha, no Rio de Janeiro, a grande caixa de ressonância nacional.
“O seu início foi na Rádio Clube do Brasil, no programa de Renato Murce, e depois foi para a Rádio Tamoio, que lhe ofereceu um cachê maior”, conta. Quando foi para a Nacional, Luiz Gonzaga reencontrou Renato Murce, que apresentava o programa Alma do Sertão. “E foi devido ao alcance que a Nacional tinha em todo o país que se deu a sua grande projeção”.
Gerdal recorda que ficou impressionado com a seriedade com o que o sanfoneiro encarava o trabalho na rádio. “Ele era uma pessoa muito caprichosa e muito profissional. Eu tive oportunidade de ver quando ele ia para o estúdio. Gonzaga ficava ensaiando as músicas o dia inteiro, diferentemente de todos os outros que atuavam conosco naquela época”, lembra.
texto adaptado de Paulo Virgílio para a EBC
Em 16 de junho de 1948, Luiz Gonzaga casou-se na Igreja de Nossa Senhora Aparecida, na Rua Ferreira de Andrade, no Cachambi, mesma rua de sua casa, com a também pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular.
Logo depois adotaram Rosinha, sua filha que cresceu na bela casa que até hoje encanta os que passam pela frente.
Destaque para a foto do casamento, a bandeira do Botafogo (Gonzagão era alvinegro no Rio) e seu papagaio preferido, com a referência da fotografia da Revista da Semana, de 1950.
Também há uma homenagem no quadro com uma pintura da casa onde Gonzaga morou em Exu (PE), sua cidade natal.
“Êste cabra da peste é meu herdeiro artístico”
Foi nessa casa do Cachambi onde Luiz Gonzaga apresentou Dominguinhos pela primeira vez ao público em 1957, durante seu aniversário.
Quantos segredos nossos subúrbios e nossos ancestrais negros nos são escondidos?
Segue relato de Dominguinhos para a revista “Contexto” em 2012:
“Quando eu conheci Luiz Gonzaga em Garanhuns (PE), que é minha terra, eu conheci Luiz Gonzaga com meus dois irmãos, Morais (faleceu aos 57 anos em Salvador/BA), que era o sanfoneiro que tocava oito baixos, eu
tocava pandeiro, e meu outro irmão Valdomiro, que era o mais novo, tocava um instrumento que meu pai fazia que chamava "melê".
E, num dia, lá em Garanhuns, a gente estava tocando na porta do Hotel Tavares Correia - e nós não podíamos ultrapassar o portão, aquela coisa de hóspedes. - pois bem, naquele dia, nos puseram para tocar
lá dentro, no salão, para algumas pessoas e, entre essas pessoas, estava Luiz Gonzaga, essa figura. Eu tinha oito anos de idade e meu irmão Morais tinha dez, o Valdomiro tinha seis anos, já tocando no melê. Aí, nós tocamos para aquele cidadão, mais umas dez pessoas, que estavam numa mesa grande. Aí ele meteu a mão no bolso e tirou um bolo de dinheiro e entregou a meu irmão, que era o mais velhinho e, o mais importante de tudo: mandou alguém escrever o endereço dele do Rio de Janeiro que, se um dia, a gente pendesse pra lá, ele ia nos ajudar. Foi assim que eu conheci Luiz Gonzaga sem saber quem ele era.”
E lá ele foi! E que bom saber da riqueza da nossa ZN e a história negra e nordestina costurando nossa essência!